O rei dos sonhos mostrou-se surpreso:
‘Não tenho qualquer desejo de me tornar rei de uma terra de mortais. ‘
‘Não. Não me compreendestes. ‘
Haroun Al Raschid ergueu os braços acima da cabeça, em direcção ao céu, como se desejasse abarcar no seu amplexo todas as torres e minaretes que refulgiam contra o firmamento.
‘Esta é a mais gloriosa cidade que Allah - louvado seja desde o nascer do sol na manhã até ao seu repouso no entardecer, e também durante a noite e nas horas que antecedem a madrugada – achou por bem criar com o propósito de abençoar o mundo. E esta época é a época perfeita. ‘
‘Durante quanto tempo poderá durar? Durante quanto tempo vão as pessoas recordar? ‘
O rei deixou cair os braços, e o seu olhar assumiu uma expressão vazia, de quem contempla para além do tempo e do espaço.
‘Eu vi o mundo, rei dos sonhos. ’
‘Eu cavalguei através dos desertos, e vi as pedras e velhas paredes e estátuas, desgastadas pelo vento do deserto, nas vastidões vazias de areia. E depois o vento e a areia sopram uma vez mais, os restos de cidades e palácios e deuses desvanecem-se para outra idade do homem. ‘
‘Esquecidos e jamais lembrados. ‘
Haroun Al Raschid pareceu de repente muito cansado e resignado.
‘Nunca poderá ser melhor do que isto, pois não? ‘
‘Talvez assim seja…’
‘…mas só Allah sabe o que virá’ – completou o rei. – ‘É verdade. ‘
‘Eu sou Haroun Ibn Mohammed Ibn Ali Ben Abdullah Ibn Abbas, Califa de Bagdad’ – o rei parecia estar a falar para a cidade diante dos seus olhos. – ‘Eu proponho oferecer-vos a minha cidade. Eu proponho que a compreis de mim: que a leveis para os sonhos. ‘
‘E em troca? ‘ – perguntou o rei dos sonhos.
‘Em troca desejo que ela jamais morra. Que viva eternamente. Podeis conseguir isto? ‘
O rei dos sonhos não respondeu por momentos, absorto em reflexões, com a cabeça baixa. Depois ergueu os olhos para as torres e cúpulas cintilantes, e murmurou:
‘Sim. À minha maneira, posso fazê-lo. ‘
‘E o que será necessário acontecer para que tal suceda? Haverá algum encantamento que necessitais de executar? Existirá alguma cruzada que terei de empreender, para algum país longínquo? Haverá alguma grandiosa acção? ‘
‘Não. Basta contar ao teu povo. Afinal, é a ti que ele segue. E é teu, o sonho. ‘
‘Muito bem. ’
O rei caminhou com passos firmes e decididos para a praça, seguido de perto pela misteriosa figura, e parou junto à fonte no centro do recinto.
‘OUÇAM-ME, MEU POVO! EU, O VOSSO CALIFA HAROUN AL RASCHID, DA LINHAGEM DOS HASHIMI, PROCLAMO NESTE DIA, NESTE LUGAR, QUE EU OFERECI A IDADE DOURADA DE BAGDAD, DA ARÁBIA, A ESTE QUE ESTÁ AO MEU LADO. ‘
‘SERÁ SUA ETERNAMENTE, ENQUANTO A HUMANIDADE DURAR… ‘
‘…e o nosso mundo não for esquecido. ‘
O tapete que pairava graciosamente acima do mercado pareceu estremecer durante um segundo, e toda a força que o sustentava desapareceu, fazendo com que tombasse em espirais, devagar, no chão, levantando uma nuvem de poeira.
‘Não tenho qualquer desejo de me tornar rei de uma terra de mortais. ‘
‘Não. Não me compreendestes. ‘
Haroun Al Raschid ergueu os braços acima da cabeça, em direcção ao céu, como se desejasse abarcar no seu amplexo todas as torres e minaretes que refulgiam contra o firmamento.
‘Esta é a mais gloriosa cidade que Allah - louvado seja desde o nascer do sol na manhã até ao seu repouso no entardecer, e também durante a noite e nas horas que antecedem a madrugada – achou por bem criar com o propósito de abençoar o mundo. E esta época é a época perfeita. ‘
‘Durante quanto tempo poderá durar? Durante quanto tempo vão as pessoas recordar? ‘
O rei deixou cair os braços, e o seu olhar assumiu uma expressão vazia, de quem contempla para além do tempo e do espaço.
‘Eu vi o mundo, rei dos sonhos. ’
‘Eu cavalguei através dos desertos, e vi as pedras e velhas paredes e estátuas, desgastadas pelo vento do deserto, nas vastidões vazias de areia. E depois o vento e a areia sopram uma vez mais, os restos de cidades e palácios e deuses desvanecem-se para outra idade do homem. ‘
‘Esquecidos e jamais lembrados. ‘
Haroun Al Raschid pareceu de repente muito cansado e resignado.
‘Nunca poderá ser melhor do que isto, pois não? ‘
‘Talvez assim seja…’
‘…mas só Allah sabe o que virá’ – completou o rei. – ‘É verdade. ‘
‘Eu sou Haroun Ibn Mohammed Ibn Ali Ben Abdullah Ibn Abbas, Califa de Bagdad’ – o rei parecia estar a falar para a cidade diante dos seus olhos. – ‘Eu proponho oferecer-vos a minha cidade. Eu proponho que a compreis de mim: que a leveis para os sonhos. ‘
‘E em troca? ‘ – perguntou o rei dos sonhos.
‘Em troca desejo que ela jamais morra. Que viva eternamente. Podeis conseguir isto? ‘
O rei dos sonhos não respondeu por momentos, absorto em reflexões, com a cabeça baixa. Depois ergueu os olhos para as torres e cúpulas cintilantes, e murmurou:
‘Sim. À minha maneira, posso fazê-lo. ‘
‘E o que será necessário acontecer para que tal suceda? Haverá algum encantamento que necessitais de executar? Existirá alguma cruzada que terei de empreender, para algum país longínquo? Haverá alguma grandiosa acção? ‘
‘Não. Basta contar ao teu povo. Afinal, é a ti que ele segue. E é teu, o sonho. ‘
‘Muito bem. ’
O rei caminhou com passos firmes e decididos para a praça, seguido de perto pela misteriosa figura, e parou junto à fonte no centro do recinto.
‘OUÇAM-ME, MEU POVO! EU, O VOSSO CALIFA HAROUN AL RASCHID, DA LINHAGEM DOS HASHIMI, PROCLAMO NESTE DIA, NESTE LUGAR, QUE EU OFERECI A IDADE DOURADA DE BAGDAD, DA ARÁBIA, A ESTE QUE ESTÁ AO MEU LADO. ‘
‘SERÁ SUA ETERNAMENTE, ENQUANTO A HUMANIDADE DURAR… ‘
‘…e o nosso mundo não for esquecido. ‘
O tapete que pairava graciosamente acima do mercado pareceu estremecer durante um segundo, e toda a força que o sustentava desapareceu, fazendo com que tombasse em espirais, devagar, no chão, levantando uma nuvem de poeira.
continua...
6 comentários:
Viva! Tomei a liberdade de nomear o teu blogue para Melhor Blogue de Cultura no Lauro António Apresenta. Se puderes, dá lá um pulo.
Ola! Obrigado pela nomeação, Flávio, não estava realmente à espera. Fico contente que consideres o meu blog nomeável, mas, pessoalmente (e aqui não vou aplicar ditado "uma mão lava a outra" porque não é do que se trata) acho que o teu blog merecia mais essa nomeação (e talvez uns quinhentos mais, na blogoesfera :).
Já dei uma vista de olhos no blog, vou tentar votar!
Abraço
Acho que tens boas hipóteses de ganhar, Sandman. Tens aqui um blog excepcional. :)
Beijinhos
Já agora, bom Natal ao Sandman e a todos os frequentadores deste blogue.
Feliz dia de Natividade!
Estou atrasado, mas desejo a todos um Feliz Natal (mesmo que seja já o de 2007).
:) Ou então... um feliz ano novo, e um feliz dia de Reis. Enfim, desejo-vos coisas boas.
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