O Blog é um monstro. Com fome. Um kraken de dentes cariados – como livros aguçados, empilhados nas estantes –, e boca escancarada, a salivar sobre o pressionar das teclas, a cobiçar sopas de letras, a degustar, por antecipação, descrições e metáforas ainda não escritas.
O Blog não tem paciência para actividades paralelas. Não se compadece com momentos de lazer, menospreza saídas à noite, rosna perante temporadas longe do teclado, é um chicote permanentemente erguido, em tom de ameaça e urgência, sobre a cabeça do autor. O Blog não quer saber dos programas que passam na televisão, dos livros que se acumulam na mesinha de cabeceira, dos filmes que se prostituem por bilhetes, das músicas que arranham a alma, das peças de teatro que definham no deserto de ideias, das pessoas interessantes nos bares, dos locais atmosféricos nas pessoas interessantes. O Blog gargalha quando confrontado com argumentos de pesquisa de material fresco, e enquanto ri, tem uma das mãos, coberta de bolhas purulentas, a acariciar o chicote pendente em ritmo masturbatório.
O Blog é o bloqueio de escritor ao contrário. É o desespero por torrentes de palavras. É os olhos que vemos acesos na escuridão, por entre as árvores, o decalque dos medos que arrepiam os sonhos da infância, as garras que aguardam pacientemente debaixo da cama
O Blog não tem paciência para actividades paralelas. Não se compadece com momentos de lazer, menospreza saídas à noite, rosna perante temporadas longe do teclado, é um chicote permanentemente erguido, em tom de ameaça e urgência, sobre a cabeça do autor. O Blog não quer saber dos programas que passam na televisão, dos livros que se acumulam na mesinha de cabeceira, dos filmes que se prostituem por bilhetes, das músicas que arranham a alma, das peças de teatro que definham no deserto de ideias, das pessoas interessantes nos bares, dos locais atmosféricos nas pessoas interessantes. O Blog gargalha quando confrontado com argumentos de pesquisa de material fresco, e enquanto ri, tem uma das mãos, coberta de bolhas purulentas, a acariciar o chicote pendente em ritmo masturbatório.
O Blog é o bloqueio de escritor ao contrário. É o desespero por torrentes de palavras. É os olhos que vemos acesos na escuridão, por entre as árvores, o decalque dos medos que arrepiam os sonhos da infância, as garras que aguardam pacientemente debaixo da cama
(dentro dos armários),
as línguas viscosas das algas que nos lambem debaixo de água, os leprosos beijos de bactérias invisíveis. O Blog é o kalkito do terror de não ter nada a dizer.
O Blog despreza toda e qualquer vida pessoal, só existe para ele mesmo, apenas se preocupa com o alimento que consome, e com a periodicidade com que é saciado. É um perseguidor incansável/implacável, sempre a relembrar o acossado dos posts que ainda deve – da dívida acumulada com juros agiotas –, que nunca poderá saldar as contas. Nunca, ronca o Blog, enquanto o autor se passeia longe do monitor, nunca pagarás, mas alimenta-me, não se acaba o teu trabalho, estou com fome, volta para o teclado, alimenta-me. Alimenta-me. Alimenta-me. Alimenta-me.
Ainda mal o post foi publicado e já a aventesma o mordeu, mastigou, trucidou, saboreou, trucidamastigaesmagaesfarelacorróidevorou. O autor carrega no botão de “publicar”, e já o animal está a bater na mesa, sôfrego, o estômago a borbulhar de ácidos biliosos, a reclamar mais, mais posts, mais palavras, mais ideias, mais reflexões, mais fome.
Mais fome. Com as palmas das mãos suadas e escorregadias. O Blog é um monstro faminto. Com a pele esverdeada da ressaca viciada. Esfaimado. Com os lábios molhados de baba. Esganado. Com o olhar febril diante da próxima dose. Raivoso. Como um espelho que reflecte um rosto de olhos inchados e pele curtida, pela manhã. Emboscado. Como dentes impacientes perante a panela fumegante.
Quero mais.
O Blog despreza toda e qualquer vida pessoal, só existe para ele mesmo, apenas se preocupa com o alimento que consome, e com a periodicidade com que é saciado. É um perseguidor incansável/implacável, sempre a relembrar o acossado dos posts que ainda deve – da dívida acumulada com juros agiotas –, que nunca poderá saldar as contas. Nunca, ronca o Blog, enquanto o autor se passeia longe do monitor, nunca pagarás, mas alimenta-me, não se acaba o teu trabalho, estou com fome, volta para o teclado, alimenta-me. Alimenta-me. Alimenta-me. Alimenta-me.
Ainda mal o post foi publicado e já a aventesma o mordeu, mastigou, trucidou, saboreou, trucidamastigaesmagaesfarelacorróidevorou. O autor carrega no botão de “publicar”, e já o animal está a bater na mesa, sôfrego, o estômago a borbulhar de ácidos biliosos, a reclamar mais, mais posts, mais palavras, mais ideias, mais reflexões, mais fome.
Mais fome. Com as palmas das mãos suadas e escorregadias. O Blog é um monstro faminto. Com a pele esverdeada da ressaca viciada. Esfaimado. Com os lábios molhados de baba. Esganado. Com o olhar febril diante da próxima dose. Raivoso. Como um espelho que reflecte um rosto de olhos inchados e pele curtida, pela manhã. Emboscado. Como dentes impacientes perante a panela fumegante.
Quero mais.
7 comentários:
O Blog domestica-se!
Para ti é fácil falar, já tens o teu bem treinadinho... o meu ainda está no estado semi-selvagem.
Vai melhorar, vais ver :)
Feminino? Naaa... O blog, não a bloga. Mas acredita que entendo bem o que queres dizer. Eu debato-me comigo mesma para não ir contra os conselhos dos meus amigos... o meu blog é demasiado indiscreto.
Cancela os teus amigos, aplica-lhes um "undo" cada vez que te disserem para não te libertares da forma como te libertas, no teu blog.
Nada acontece por acaso, como tão acertadamente referes, e o teu blog foi uma boa surpresa no meio do oceano de banalidades com que me deparo, nas minhas pesquisas do dia a dia. Quem sabe o que poderão sentir visitantes futuros?
Eu, como um auto-proclamado visitante futuro, continuarei a ler as tuas indiscrições... pelo que só te posso solicitar, com todo o respeito e humildade, que continues a desabrochá-las.
Saudações.
:O
Pimba, caiu-me tudo agora... :D Pronto, surpreendeste-me! :D Não estou habituada a que me respondam quando ando por aí a espreitar blogs amigos dos meus amigos bloguiros. :) Mas olha que os conselhos têm a sua razão de ser. Eu acabo por me entalar, por me revelar demasiado e ficar mais vulnerável... Enfim... estranho modo de vida o meu... :)
Aparece! :)
"The truth will set you free".
E quando conversamos com o nosso blog, ou com o leitor, aprendemos sempre qualquer coisa de nós mesmos... nunca será um monólogo, porque trazemos sempre demasiadas vozes, muitas delas em contradição, dentro de nós... algumas até desconhecidas.
Oh-oh... saiu-me um psicólogo na rifa... ;D ;D ;D
(não ligues, eu digo disparates, mas é só a brincar, não sou perigosa! ;D )
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