O meu quarto dá directamente para a varanda das traseiras do prédio, coberta em estilo de marquise, onde fica a máquina de lavar e o estendal. Durante o dia, os prédios em volta fervilham de actividade, e posso apreciar os vizinhos, atarefados nas suas ocupações familiares. No terceiro andar em frente vive um casal de idade, e a única ocupação da senhora, ao que parece, é estender a roupa, pois que todos os dias é um ir e vir de vestuário, pendura, despendura, deixa a secar, e retira para passar a ferro. Não sei se realmente passa a ferro, talvez entregue as camisas ao marido todas amarrotadas, quando se zangam. Mas nunca ouvi ruídos de discussão, do lado de cá.
No segundo andar habita um casal com filhos, que se mudou recentemente, e costumo observar, disfarçadamente, quando a esposa prepara o jantar, e os filhos brincam no chão da cozinha, com carrinhos e bonecos-merchandising dos desenhos animados de hoje em dia, que tão pouco me dizem, e que acredito sinceramente nunca despertarão quaisquer sentimentos nostálgicos quando eles crescerem. Passados tantos anos, é com uma mistura de deslumbramento e carinho que recordo os desenhos animados dos meus tempos de infância, e como saía da escola a correr, para não perder sequer o genérico inicial (algo que se manteve: até hoje, quando vejo na televisão algo que gosto, tem que ser desde o principio, e sem desviar os olhos por um momento).
No primeiro andar vive um homem de certa idade, e uma rapariga nova, que nunca descortinei serem pai e filha, ou casados/namorados; o meu colega de quarto disse-me que por várias vezes ela veio para a varanda em roupa interior, com o homem em casa, mas nunca confirmei, e de qualquer forma agora já existe desinibição suficiente para um pai ver a filha em trajes menores, ou talvez não, sei lá, posso estar a ser demasiado liberal.
A mesa onde tenho este computador é demasiado baixa, ou talvez o problema seja a cadeira onde me sento para escrever, muito alta; se fico mais de uma hora aqui sentado, a prestar atenção ao teclado (e é engraçado, porque não consigo escrever a olhar para o monitor, e os meus textos não revistos são um oceano de erros), acabo sempre por ficar com dores nas costas. Ando sempre a dizer que vou substituir esta cadeira, mas nunca o faço, prefiro ficar sentado durante horas a fio, a evitar ao máximo escrever, ou a discorrer sobre tudo e nada, enquanto a dor se instala insidiosamente..
Neste momento o Lou Reed está a dizer-me como foi o seu dia perfeito, e aumento o som das colunas, porque é uma música que me agrada, e também já tive um ou dois dias assim. A grande vantagem de morar aqui é o facto do vizinho de baixo ser surdo que nem uma porta (estranha expressão, porque também são mudas, posto que não respondem, ou então como não ouvem, nada têm para dizer), o que me deixa à vontade para varar noites a escrever e ouvir música em altos berros; sempre gostei de ouvir alto as músicas que gosto, deve ser para entrarem melhor na alma.
Há inclusive uma história, que não presenciei pois ainda não habitava no prédio: um dia a esposa do senhor faleceu, e o meu ex-colega de quarto, que sempre teve tendência para ouvir musicas étnicas de raízes sul-americanas com as colunas no máximo, foi à porta quando ouviu alguém bater. Era o filho, a pedir para colocar o som mais baixo, porque os convidados do pai estavam escandalizados com o desrespeito à memória da senhora. Mas o viúvo não se queixou, e ainda no outro dia disse que éramos bons rapazes, não incomodávamos ninguém.
A senhora que vive no primeiro andar, com o esposo, sofre de uma inesgotável compaixão pelos animais, e gosta de deixar pratinhos com resto de comida, no passeio, para as famílias de gatos vadios que vivem na rua, e coabitam pacificamente connosco; são bons vizinhos, já que nunca ouvi miados nocturnos, nem sequer na época do cio, e garanto-vos que as gatas da vizinhança parecem ter um bordel 24 horas a funcionar, porque estão sempre inevitavelmente prenhas, pachorrentamente abandonadas em cima do capô dos carros estacionados, a aproveitarem o calor do motor, com os ventres inchados. Curiosamente, é raro ver gatinhos, talvez a senhora que alimenta os pais se encarregue de atirar os filhos ao rio, e dessa forma equilibre a balança das boas e más acções na sua vida.
Para além dos gatos, também tem o péssimo hábito de espalhar milho pela calçada, o que resulta numa caótica invasão de pombas, de modo que os carros estacionados estão sempre cobertos de merda, e, ocasionalmente, lá aparece um cadáver na estrada: os gatos não dormem. Há quem reclame, mas as vozes que se insurgem nunca são demasiado bruscas, pois que a senhora é idosa e tem no rosto aquela bonomia característica de quem viveu muito, e guarda caixas de histórias por contar. Eu, após aturadas reflexões, concluí que a alimentação das pombas serve dois propósitos: permite que os gatos agucem os seus felinos instintos de caçador, adormecidos por dias e dias de pratos no passeio, e noites de sexo desenfreado, e por outro lado incita os moradores a lavarem os carros com frequência.
O café da esquina tem como proprietário um senhor que já foi emigrante, e que gosta tanto da actividade que não é raro vê-lo, às quatro, cinco da manhã, ainda no estabelecimento – com as portas fechadas, que a polícia, à semelhança dos gatos, também não dorme – a servir e conversar com os clientes. São um grupo estranho, maioritariamente composto por homens, com especial predominância para reformados que ainda bebem o seu café com o cheirinho (ou, nos dias maus, atacam a rotina com o líquido directamente vertido da garrafa para o copo), e jovens que jogam hóquei no clube aqui perto, a curarem as mazelas dos toques de stick com doses industriais de cerveja.
É perene, o café, e sinto que todos aqueles rapazes, de cerveja nos beiços, voltarão mais tarde, depois de uma vida cheia de empurrões e encontros bruscos com sticks, golos e falhanços inacreditáveis, e desfiles triunfais perante multidões em delírio, para lerem o seu jornal, beberem o seu bagaço, e discutirem interminavelmente o assunto futebol-política, madrugada adentro.
Na esquina perpendicular ao café abriu há cerca de um ano uma pastelaria, onde antes existia uma mercearia tradicional. Um dos raros prazeres que tenho é abancar nas tardes de sábado, depois de ter sido expulso de casa pela senhora que faz a limpeza, e viver a vida dos dias calmos, a ler um livro e comer um lanche misto com um galão. Tornou-se ritual, e nem preciso de dizer o que quero, já posso pedir “o costume”, eles sabem. Se fosse tudo assim tão simples, não teríamos sobressaltos ou preocupações, mas também não teríamos evolução, porque é de atritos e indagações que fazemos o nosso crescimento.
Costumo pensar que seria agradável viver num bairro tradicional, daqueles com casas caiadas de branco, onde toda a gente tem as suas particularidades e excentricidades, e os dias vivem-se num quotidiano de comentários sobre o que cada um fez, faz, fará, mas acho que já não devem existir locais assim, fazem parte da memória, pertencem apenas ao imaginário colectivo. Esta rua é uma aproximação dessa ideia, encaixada entre estas vidas apressadas do século XXI, o stress do trânsito, os assaltos ocasionais, os bons dias que utilizamos para não ter que saber o nome dos vizinhos.
E não será verdade que nos afastamos daqueles que estão mais próximos, e buscamos a intimidade de desconhecidos? O meu ex-colega tinha sempre 3 janelas do MSN abertas, cada uma com mais de 100 contactos, e corria noites a conversar com os quatro cantos do mundo. Mas nunca soube o nome da senhora que morreu no andar de baixo, enquanto ele martelava o teclado com a urgência de partilhar, conhecer, eliminar a solidão.
Eu faço festas aos gatos que não fogem, e sou zeloso no sorriso que exibo para a vizinha do primeiro andar, mas nunca lhe perguntei porque motivo é que deita o milho sempre perto dos pratos com atum, se existirá alguma tendência de carnificina nas suas intenções.
O senhor do café foi operado recentemente, e esteve em baixo, durante uns tempos, pelo que o estabelecimento ficou a cargo da esposa, que nunca convidou as amigas para beberem bagaço ou cerveja até ao alto da noite. Quando o vi, depois da operação, pareceu-me mudado por dentro, como aquelas pessoas que clamam por conhecimento de algo transcendental após uma experiência de quase morte. Está sereno, agora, e gostava de saber se viu Deus, deitado naquela mesa de operações.
Gostava de ser convidado para jantar pelo casal que tem filhos, para saber a que sabe a comida que tanto tempo leva a ser preparada, e para contar aos miúdos histórias de desenhos animados carregados de ingenuidade, que ainda alimentam os meus sonhos de tempos despreocupados. E de dizer ao senhor do primeiro andar que a mulher/namorada/filha cumpre escrupulosamente todas as regras de boa vizinhança, quando se passeia em cuecas e soutien na varanda, nos dias quentes.
Vejo as pessoas no meu dia a dia, e invento histórias, intenções, passados e futuros, mas isso é a minha faceta de sonhador que me diz que nunca poderei saber ao certo quem são estas gentes que vivem ao meu redor, tendo que criar vidas alternativas, para fingir que os conheço melhor. Também não ouso aproximar-me, porque a mistificação acaba sempre destruída pela realidade, e desta forma vou registando o que sentem e existem, sem as inconveniências da desilusão.
As coisas nunca são o que parecem. Mas cada mundo que construímos dentro de nós, é tanto ou mais real do que o mundo que se espraia do lado de fora das nossas janelas. Ou como diria a/o personagem transsexual do “Tudo sobre a minha mãe”:
“Somos tanto ou mais reais aos nossos olhos, quanto mais nos parecemos com aquilo que sonhamos ser.”
No segundo andar habita um casal com filhos, que se mudou recentemente, e costumo observar, disfarçadamente, quando a esposa prepara o jantar, e os filhos brincam no chão da cozinha, com carrinhos e bonecos-merchandising dos desenhos animados de hoje em dia, que tão pouco me dizem, e que acredito sinceramente nunca despertarão quaisquer sentimentos nostálgicos quando eles crescerem. Passados tantos anos, é com uma mistura de deslumbramento e carinho que recordo os desenhos animados dos meus tempos de infância, e como saía da escola a correr, para não perder sequer o genérico inicial (algo que se manteve: até hoje, quando vejo na televisão algo que gosto, tem que ser desde o principio, e sem desviar os olhos por um momento).
No primeiro andar vive um homem de certa idade, e uma rapariga nova, que nunca descortinei serem pai e filha, ou casados/namorados; o meu colega de quarto disse-me que por várias vezes ela veio para a varanda em roupa interior, com o homem em casa, mas nunca confirmei, e de qualquer forma agora já existe desinibição suficiente para um pai ver a filha em trajes menores, ou talvez não, sei lá, posso estar a ser demasiado liberal.
A mesa onde tenho este computador é demasiado baixa, ou talvez o problema seja a cadeira onde me sento para escrever, muito alta; se fico mais de uma hora aqui sentado, a prestar atenção ao teclado (e é engraçado, porque não consigo escrever a olhar para o monitor, e os meus textos não revistos são um oceano de erros), acabo sempre por ficar com dores nas costas. Ando sempre a dizer que vou substituir esta cadeira, mas nunca o faço, prefiro ficar sentado durante horas a fio, a evitar ao máximo escrever, ou a discorrer sobre tudo e nada, enquanto a dor se instala insidiosamente..
Neste momento o Lou Reed está a dizer-me como foi o seu dia perfeito, e aumento o som das colunas, porque é uma música que me agrada, e também já tive um ou dois dias assim. A grande vantagem de morar aqui é o facto do vizinho de baixo ser surdo que nem uma porta (estranha expressão, porque também são mudas, posto que não respondem, ou então como não ouvem, nada têm para dizer), o que me deixa à vontade para varar noites a escrever e ouvir música em altos berros; sempre gostei de ouvir alto as músicas que gosto, deve ser para entrarem melhor na alma.
Há inclusive uma história, que não presenciei pois ainda não habitava no prédio: um dia a esposa do senhor faleceu, e o meu ex-colega de quarto, que sempre teve tendência para ouvir musicas étnicas de raízes sul-americanas com as colunas no máximo, foi à porta quando ouviu alguém bater. Era o filho, a pedir para colocar o som mais baixo, porque os convidados do pai estavam escandalizados com o desrespeito à memória da senhora. Mas o viúvo não se queixou, e ainda no outro dia disse que éramos bons rapazes, não incomodávamos ninguém.
A senhora que vive no primeiro andar, com o esposo, sofre de uma inesgotável compaixão pelos animais, e gosta de deixar pratinhos com resto de comida, no passeio, para as famílias de gatos vadios que vivem na rua, e coabitam pacificamente connosco; são bons vizinhos, já que nunca ouvi miados nocturnos, nem sequer na época do cio, e garanto-vos que as gatas da vizinhança parecem ter um bordel 24 horas a funcionar, porque estão sempre inevitavelmente prenhas, pachorrentamente abandonadas em cima do capô dos carros estacionados, a aproveitarem o calor do motor, com os ventres inchados. Curiosamente, é raro ver gatinhos, talvez a senhora que alimenta os pais se encarregue de atirar os filhos ao rio, e dessa forma equilibre a balança das boas e más acções na sua vida.
Para além dos gatos, também tem o péssimo hábito de espalhar milho pela calçada, o que resulta numa caótica invasão de pombas, de modo que os carros estacionados estão sempre cobertos de merda, e, ocasionalmente, lá aparece um cadáver na estrada: os gatos não dormem. Há quem reclame, mas as vozes que se insurgem nunca são demasiado bruscas, pois que a senhora é idosa e tem no rosto aquela bonomia característica de quem viveu muito, e guarda caixas de histórias por contar. Eu, após aturadas reflexões, concluí que a alimentação das pombas serve dois propósitos: permite que os gatos agucem os seus felinos instintos de caçador, adormecidos por dias e dias de pratos no passeio, e noites de sexo desenfreado, e por outro lado incita os moradores a lavarem os carros com frequência.
O café da esquina tem como proprietário um senhor que já foi emigrante, e que gosta tanto da actividade que não é raro vê-lo, às quatro, cinco da manhã, ainda no estabelecimento – com as portas fechadas, que a polícia, à semelhança dos gatos, também não dorme – a servir e conversar com os clientes. São um grupo estranho, maioritariamente composto por homens, com especial predominância para reformados que ainda bebem o seu café com o cheirinho (ou, nos dias maus, atacam a rotina com o líquido directamente vertido da garrafa para o copo), e jovens que jogam hóquei no clube aqui perto, a curarem as mazelas dos toques de stick com doses industriais de cerveja.
É perene, o café, e sinto que todos aqueles rapazes, de cerveja nos beiços, voltarão mais tarde, depois de uma vida cheia de empurrões e encontros bruscos com sticks, golos e falhanços inacreditáveis, e desfiles triunfais perante multidões em delírio, para lerem o seu jornal, beberem o seu bagaço, e discutirem interminavelmente o assunto futebol-política, madrugada adentro.
Na esquina perpendicular ao café abriu há cerca de um ano uma pastelaria, onde antes existia uma mercearia tradicional. Um dos raros prazeres que tenho é abancar nas tardes de sábado, depois de ter sido expulso de casa pela senhora que faz a limpeza, e viver a vida dos dias calmos, a ler um livro e comer um lanche misto com um galão. Tornou-se ritual, e nem preciso de dizer o que quero, já posso pedir “o costume”, eles sabem. Se fosse tudo assim tão simples, não teríamos sobressaltos ou preocupações, mas também não teríamos evolução, porque é de atritos e indagações que fazemos o nosso crescimento.
Costumo pensar que seria agradável viver num bairro tradicional, daqueles com casas caiadas de branco, onde toda a gente tem as suas particularidades e excentricidades, e os dias vivem-se num quotidiano de comentários sobre o que cada um fez, faz, fará, mas acho que já não devem existir locais assim, fazem parte da memória, pertencem apenas ao imaginário colectivo. Esta rua é uma aproximação dessa ideia, encaixada entre estas vidas apressadas do século XXI, o stress do trânsito, os assaltos ocasionais, os bons dias que utilizamos para não ter que saber o nome dos vizinhos.
E não será verdade que nos afastamos daqueles que estão mais próximos, e buscamos a intimidade de desconhecidos? O meu ex-colega tinha sempre 3 janelas do MSN abertas, cada uma com mais de 100 contactos, e corria noites a conversar com os quatro cantos do mundo. Mas nunca soube o nome da senhora que morreu no andar de baixo, enquanto ele martelava o teclado com a urgência de partilhar, conhecer, eliminar a solidão.
Eu faço festas aos gatos que não fogem, e sou zeloso no sorriso que exibo para a vizinha do primeiro andar, mas nunca lhe perguntei porque motivo é que deita o milho sempre perto dos pratos com atum, se existirá alguma tendência de carnificina nas suas intenções.
O senhor do café foi operado recentemente, e esteve em baixo, durante uns tempos, pelo que o estabelecimento ficou a cargo da esposa, que nunca convidou as amigas para beberem bagaço ou cerveja até ao alto da noite. Quando o vi, depois da operação, pareceu-me mudado por dentro, como aquelas pessoas que clamam por conhecimento de algo transcendental após uma experiência de quase morte. Está sereno, agora, e gostava de saber se viu Deus, deitado naquela mesa de operações.
Gostava de ser convidado para jantar pelo casal que tem filhos, para saber a que sabe a comida que tanto tempo leva a ser preparada, e para contar aos miúdos histórias de desenhos animados carregados de ingenuidade, que ainda alimentam os meus sonhos de tempos despreocupados. E de dizer ao senhor do primeiro andar que a mulher/namorada/filha cumpre escrupulosamente todas as regras de boa vizinhança, quando se passeia em cuecas e soutien na varanda, nos dias quentes.
Vejo as pessoas no meu dia a dia, e invento histórias, intenções, passados e futuros, mas isso é a minha faceta de sonhador que me diz que nunca poderei saber ao certo quem são estas gentes que vivem ao meu redor, tendo que criar vidas alternativas, para fingir que os conheço melhor. Também não ouso aproximar-me, porque a mistificação acaba sempre destruída pela realidade, e desta forma vou registando o que sentem e existem, sem as inconveniências da desilusão.
As coisas nunca são o que parecem. Mas cada mundo que construímos dentro de nós, é tanto ou mais real do que o mundo que se espraia do lado de fora das nossas janelas. Ou como diria a/o personagem transsexual do “Tudo sobre a minha mãe”:
“Somos tanto ou mais reais aos nossos olhos, quanto mais nos parecemos com aquilo que sonhamos ser.”
Boa noite, e bons sonhos.
1 comentário:
Boa malha! Gosto de acompanhar os teus sonhos :)
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